Cruz das Almas-Ba, 18/04/2025 16:44
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Sítio Arqueológico de Cruz das Almas

Confira a História de Nosso Sítio

SÍTIO ARQUEOLÓGICO

   Arqueologia, o que é?

 A arqueologia é uma ciência que estuda os povos do passado por meio dos objetos que eles produziram e que perduraram até hoje. Tais objetos são os vestígios materiais do passado. Onde e como moravam? De onde vieram e para onde foram? Há quanto tempo isso aconteceu? O que faziam e o que usavam? Estas são algumas das muitas perguntas que a arqueologia tenta responder através da pesquisa científica. O profissional capaz de realizar essas pesquisas é o arqueólogo, que estuda os sítios arqueológicos, ou seja, os lugares onde se encontram os vestígios do passado.

Há vários sítios arqueológicos famosos pelo mundo. Uma rápida busca na internet, por exemplo, mostra as pirâmides do Egito na África ou a cidade Inca de Machu Picchu no Peru. Também existem sítios famosos no Brasil, tais com as pinturas rupestres da Serra da Capivara no Piauí ou os gigantescos sambaquis no litoral catarinense. Na Bahia há destaque para as muitas pinturas rupestres por todo o estado e esses são um dos vestígios que mais chamam a atenção das pessoas. Além deles, existem ainda vários outros vestígios que vale a pena conhecer.

Além dos objetos do passado, eventualmente são descobertos sepultamentos indígenas de um tempo anterior à chegada de Cabral. Quando encontrados, causam grande espanto por estarem em lugares inusitados. Na maioria das vezes esses antigos enterros consistiam da colocação do corpo do indígena em um grande pote de barro. No município de Cruz das Almas existe um destes sítios com sepultamentos em urnas funerárias, numa área da comunidade da Baixa da Linha.

   O que foi encontrado na comunidade da Baixa da Linha?

 Sítio Reitoria, esse é o nome pelo qual foi designado o sítio arqueológico identificado na comunidade da Baixa da Linha, na cidade de Cruz das Almas, nas proximidades da Reitoria da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia, o que lhe justificou a denominação. Ele também tem sido chamado costumeiramente de sítio da Baixa da Linha, em consideração à localidade onde foi encontrado. Ali, há vários anos os arqueólogos reconheceram no solo vários fragmentos de louça de cerâmica e algumas lascas de pedra. Por meio desses vestígios os arqueólogos identificaram que naquela região seguramente existiu uma aldeia indígena há muitos séculos.

Todos os vestígios são essenciais para os arqueólogos descobrirem mais sobre aqueles indígenas, cujo modo de vida desapareceu há séculos. Justamente por esse motivo é tão importante estudar qualquer objeto que deles tenha permanecido e preservar esses fragmentos que podem contar alguma história. As urnas funerárias, popularmente conhecidas como potes dos índios, são os vestígios que mais atraem os olhares curiosos das pessoas; no entanto, são apenas uma pequena parte do que está presente no solo e que fazia parte daquela antiga aldeia. A maior parte do que resistiu ao tempo e não se deteriorou são os fragmentos de cerâmica da louça de produção e consumo de alimento.

Outro tipo de vestígios que resistiu ao tempo são os instrumentos de pedra lascada que serviam para várias funções, particularmente para o corte. Os artefatos de pedra desempenhavam quase todas as funções que os nossos atuais instrumentos de ferro. O conhecimento e as técnicas para a fabricação desses instrumentos de pedra, tanto lascados como polidos, perderam-se há muito e apenas os arqueólogos especializados são capazes de compreendê-los. Na Baixa da Linha é possível observar os sinais da produção dos machados de pedra polidos. Estamos falando de longos e estreitos sulcos presentes no leito rochoso do riacho Capivari, que passa na localidade. Esses sulcos são canaletas de polimento para produção das lâminas de machados de pedra polida. O contínuo atrito da pedra que será polida no leito rochoso provoca o seu desgaste, gerando as canaletas. É uma atividade que requer paciência, constância e um controle da modelagem da pedra de modo a lhe dar a forma desejada. Nesse mesmo lajedo há uma pequena concavidade circular que os arqueólogos denominam pilão e teriam sido usados para triturar alimentos.

   Qual a idade do sítio arqueológico da Baixa da Linha?

 Como indicamos acima, e pela observação das características dos cacos de cerâmica e lascas de pedra, a aldeia indígena é seguramente anterior à ocupação portuguesa do Brasil, ou seja, ela existiu antes de 1500. Sítios arqueológicos como esse da Baixa da Linha são bem conhecidos em todo o estado da Bahia e também nos estados vizinhos. Alguns deles foram escavados e pela datação por ‘carbono 14’ deles obtida é possível estimar que o sítio da Baixa da Linha teria existido entre os anos de 1150 a 1350 do nosso calendário.

Por ora, sabemos por pesquisas em outros sítios que aquela antiga aldeia pertencia a populações que ocuparam ostensivamente a Bahia ao longo de aproximados 500 anos, entre o século IX e o XIV, cuja característica mais marcante aos nossos olhos é o sepultamento dos mortos em grandes urnas sem decoração.

   Quem produziu esses vestígios arqueológicos?

 Tendo em conta a antiguidade do sítio é fácil perceber que não havia nenhum registro escrito ou relato oral que descrevesse ou indicasse quem eram aqueles indígenas. Desta forma, não é possível saber qual o nome daquele povo mais de 800 anos depois. De modo geral, alguns povos indígenas desconhecidos do passado são chamados de Tapuias. Esse termo era usado pelos povos Tupi, justamente os indígenas com quem os invasores portugueses entraram em contato na costa do Brasil. Os Tupi chamavam os demais indígenas que não falavam sua língua e tinha costumes diferentes dos seus de Tapuias. Portanto, o termo Tapuias indica todos os outros povos indígenas que não os Tupi.

A arqueologia brasileira tem outra forma de classificar todos os sítios arqueológicos descobertos. Por meio dessa forma, os sítios foram agrupados por graus de semelhança dos vestígios materiais neles escavados. Cada um desses conjuntos recebeu um nome. Assim, as características das cerâmicas encontradas na Baixa da Linha foram classificadas como pertencentes à Tradição Aratu. Como se pode perceber, esse nome, ‘Aratu’ foi dado não ao povo, mas sim, a um conjunto de objetos que aparece em vários sítios arqueológicos em uma vasta região do Brasil.

   Como o sítio arqueológico da Baixa da Linha foi descoberto?

 A população que reside naquela região conhece como a palma da própria mão o lugar que habita. Assim sendo, há muito tempo os moradores da Baixa da Linha percebem esses vestígios do passado. Os fragmentos de cerâmica e as lascas de pedra são vistas na terra todas as vezes que se realiza alguma atividade que revolva o solo. Desta forma, pelo que nos foi contado pelos moradores há muitos anos, pelo menos desde os anos 70, eram encontrados muitos cacos de louça de barro. Em especial, um artefato chamou mais a atenção de todas as pessoas, os grandes potes de barro enterrados, que os arqueólogos denominam de urnas funerárias. Portanto, pelo dito acima, não se trata propriamente de uma descoberta do sítio, mas sim de um compartilhamento do conhecimento popular que chegou a arqueólogos e estes passaram a abordá-lo dentro de moldes científicos.

   O que são urnas funerárias?

 São grandes recipientes cerâmicos de formato ovalado dentro dos quais os indígenas do passado depositavam os corpos dos seus mortos e depois os enterravam no chão da aldeia. Ou seja, fazendo um paralelo com a nossa cultura, as urnas funerárias eram os caixões daqueles povos do passado. Pela necessidade de receberem o corpo inteiro as urnas são sempre de grandes dimensões e pela razão de serem enterradas elas se mantiveram relativamente bem preservadas até a atualidade.

Infelizmente, há uma crença infundada de que esses grandes potes guardariam riquezas ou tesouros. Por isso, quem os encontra tem o impulso de quebrá-los em busca do imaginado ouro escondido dentro delas. Ao destruir a urna, a pessoa não encontrará nada mais além dos velhos ossos do indígena nela sepultado. Não há ouro nas urnas, pois os povos indígenas eram autossuficientes, o que quer dizer que produziam tudo que precisavam. Assim, não havia essa necessidade de comprar.

Passados séculos, os potes ainda guardam os mortos daquela aldeia que não existe mais. As urnas funerárias, por exemplo, são verdadeiras cápsulas do tempo. Podem trazer informações sobre os índigenas, se eram homens, mulheres, idade da morte, o seu estado de saúde geral, como era sua alimentação, as mudanças de lugares de moradia, a estatura e, inclusive, indicar há quanto tempo a aldeia existiu. Como se nota, manter a integridade das urnas descobertas é indispensável para os estudos. Assim, um acordo se estabeleceu entre os moradores e os arqueólogos: no momento em que um pote for descoberto eles comunicam aos arqueólogos que vão até a comunidade para escavarem a urna a vista de todos. Desta forma todas as pessoas interessadas podem acompanhar e participar da atividade, o que desmistifica aquela ideia muito comum, mas completamente errada, do pote com ouro. Isso evita que outras urnas sejam destruídas e se perca uma oportunidade, esta sim de ouro, para a pesquisa e para entender um pouco mais sobre a aldeia que existiu ali.

   O que já foi feito no sítio?

 É certo que os cacos de panelas de barro espalhados em grande quantidade no solo eram vistos diariamente por quem plantava naquele solo. Como o citado acima, os moradores há tempos conheciam os fragmentos de utensílios de cerâmica e de pedra. Nas nossas conversas com as pessoas mais idosas ouvimos relatos de achados dos anos 70 e 80. Partindo desse senso comum, no final dos anos 90, uma equipe de pesquisadores da UFBA, informada por professores e servidores da UFRB, visitou a localidade e pela primeira vez atestou a natureza indígena e a antiguidade do sítio arqueológico ali presente.

Entre 2008 e 2010 um mapeamento arqueológico feito por uma equipe do Centro de Artes, Humanidades e Letras da UFRB registrou oficialmente o sítio, então denominado de Reitoria. A partir daí, ações de aproximação dos pesquisadores com as comunidades começaram. O principal objetivo da interação é compartilhar conhecimentos sobre os potes com osso, os cacos de cerâmica e também sobre a pedra do índio. Assim, em várias reuniões na associação comunitária da Baixa da Linha os professores arqueólogos fizeram palestras, apresentaram filmes, manejaram os artefatos lá guardados e debateram sobre a antiga aldeia indígena que existia exatamente onde hoje está a Baixa da Linha.

Em 2022, dentro do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia e Patrimônio Cultural (PPGAP – UFRB), localizado no campus de Cachoeira/São Félix, um dos mestrandos tomou aquele sítio arqueológico como seu objeto de estudo e futuramente entregará o resultado das pesquisas na forma de um texto com as descrições e conclusões a que chegará.

   O sítio arqueológico e a comunidade da Baixa da Linha

 Quanto mais se descobrir sobre a antiga aldeia, mais pode ser revertido em prol da atual comunidade construída sobre ele e para a cidade de Cruz das Almas. É importante destacar que presença do sítio arqueológico não afeta a propriedade e o uso da terra. Deve-se apenas ter o cuidado de preservar e comunicar o achado de qualquer vestígio aos arqueólogos, para que eles cuidem do artefato. Nesse caso, recomendamos entrar em contato com os professores arqueólogo do CAHL. Também é possível usufruir da presença do sítio, algo único na cidade, em benefício local. Investir na produção de réplicas das urnas e da cerâmica é uma de muitas formas. Criar um espaço expositivo para as urnas já recuperadas é outro meio de atrair a visitação. Existem muitas maneira possíveis de se beneficiar com o patrimônio arqueológico do local. Destruir as urnas na crença da presença de ouro nos potes certamente prejudicará a todos.

   O que fazer ao encontrar algum artefato arqueológico?

É interessante, para a Baixa da Linha como para qualquer pessoa da Cruz das Almas, fazer várias fotografias do que foi encontrado. Em seguida, pedimos que essas fotos e também a indicação do local em que o objeto foi encontrado sejam encaminhadas para as redes do Laboratório de Documentação e Arqueologia (LADA/CAHL) e também do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia e Patrimônio Cultural (PPGAP/UFRB). Outra recomendação importante é não retirar o objeto do lugar, a não ser que ele corra risco de ser destruído ou perdido. Também é recomendado não mexer, quebrar ou danificar de qualquer modo o artefato, pois a sua posição, a sua integridade e o seu contexto são capazes de guardar informações que os arqueólogos podem interpretar.

   Dúvidas e outras informações

Gostaria de saber mais sobre esse sítio? Ficou com alguma dúvida sobre os assuntos tratados nos textos? Envie-nos as suas perguntas e nos ajude a melhorar esse texto, tornando-o mais claro e nos indicando quais informações devem ser melhor explicadas e até mesmo incluídas. Deixe aqui as suas perguntas que as responderemos.

Caso se interesse, há alguns vídeos disponíveis no YouTube que relatam as pesquisas em sítios arqueológicos similares ao existente na Baixa da Linha. Os títulos são: – ‘Piragiba, escavacando uma história’; – ‘Pesquisas arqueológicas em Sítio do Mato’ 1, 2 e 3. Outras informações também podem ser obtidas no instagram do grupo de pesquisa Recôncavo Arqueológico: @reconcavoarqueologico.

Galeria de Fotos

Arquivo em Vídeo

Fontes:

» Redação: Memorial de Cruz das Almas;

» Professor Dr. Luydy Fernandes, da Universidade Federal do Recôncavo da Bahia-UFRB. Docente permanente do Programa de Pós-Graduação em Arqueologia e Patrimônio Cultural e da Graduação em Museologia da UFRB;

» Canal TVE: https://www.youtube.com/watch?v=MLAeSsTkir0

» Foto: Cristiano Peixoto;

» Foto: André de Jesus;

Fim da Matéria
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